Assembleia referenda notas contrárias ao machismo no ambiente sindical

Vídeo: Momento na qual a aprovação das notas é defendida na assembleia do Sindscope

IMPRENSA SINDSCOPE

A assembleia das servidoras e servidores do Colégio Pedro II, realizada pelo Sindscope no dia 14 de junho de 2022, aprovou referendar e subscrever por aclamação duas notas de repúdio a casos de machismo no ambiente sindical.

Os casos ocorreram na organização do Congresso Nacional da categoria (34o Consinasefe), em Brasília, e durante reunião do Sinasefe Pará, quando se instalava o Comando de Greve.

“O não acolhimento das mães e suas crianças neste Congresso é o exemplo da tentativa constante da sociedade em invisibilizar e silenciar as mulheres, confinando-as ao ambiente doméstico”, diz trecho da primeira nota.

A nota referente ao que ocorreu no Sinasefe Pará observa que atitudes machistas que tentam desqualificar a atuação das mulheres não cabem mais nos espaços de luta sindical. “Nossos sindicatos precisam encampar as lutas antimachistas, antilgbtfóbicas, antirracistas como parte de nossa luta contra o capitalismo””, diz o documento de repúdio.

Na assembleia, realizada no dia de paralisação por 24h no CPII, a servidora Priscila Bastos, que integra o GT Mulheres do Sindscope, leu parte das notas e defendeu que elas fossem referendadas, o que acabou ocorrendo. Foram aprovadas a subscrição pelo Sindicato da “Nota de Repúdio das Mães Presentes no 34º Consinasefe” e “O Sindicalismo Classista e Socialista não pode ser Machista!”, que são reproduzidas a seguir, na íntegra:

Nota de Repúdio das Mães Presentes no 34º Consinasefe

Nós, mães presentes no 34º CONSINASEFE, apresentamos nosso repúdio à organização do Congresso e à Direção Nacional pela forma como foi conduzido o acolhimento das mães e das crianças.

Inúmeras foram as falas apresentadas durante o evento reivindicando a necessidade do tensionamento nas relações de gênero no espaço sindical, entretanto garantir relações de gênero equânimes passa, primordialmente, pela efetiva participação das mulheres e, em especial, mulheres que são mães.

O que nós e as nossas crianças vivenciamos neste congresso não só foi desrespeitoso e abusivo, mas configurou-se em uma efetiva tentativa de invisibilização feminina.

Mesmo considerando as dificuldades decorrentes do golpe sofrido pela comissão organizadora do congresso, algumas questões precisam ser pontuadas, pois atingiram de forma mais intensa às mães e seus filhos e filhas. São elas:

1- A ausência de atendimento preferencial às mães e às crianças em espaços como check-in do hotel e filas para alimentação;

2- Alocação de algumas mães com crianças pequenas no último andar do hotel com varandas sem telas de proteção e a ausência de camas para algumas das crianças nos quartos, pressupondo que elas deveriam se espremer com suas mães em camas de solteiro (no caso, foi oferecida apenas uma cama de solteiro para a mãe e a criança dormirem juntas);

3- A falta de programação educacional , política e cultural para as crianças. Estamos num espaço de formação, não nos esqueçamos;

4- A desconsideração de cardápio infantil e das restrições e alergias alimentares previamente informadas via formulário;

5- A desconsideração de que havia crianças em diferentes faixas etárias, com a apresentação de um espaço que mal atendia às crianças pequenas e era totalmente inadequado às maiores;

6- O horário de funcionamento da creche que, somado às constantes alterações na programação do evento com plenárias sem hora certa para começar e/ou terminar, acabaram por inviabilizar a participação das mães de forma plena;

7- O não respeito aos horários de alimentação (almoço, jantar e lanche) e a não prioridade às crianças na hora do lanche da tarde, deixando algumas com fome. Além disso, a “temperatura” exageradamente baixa do ar-condicionado no suposto espaço de creche deixou o ambiente ainda mais hostil;

8- E, finalmente, o esquecimento das mães e das crianças no que se refere ao jantar do último dia do Congresso (não havia jantar), destinando o buffet exclusivamente para a festa que se iniciaria às 23h, horário no qual as crianças já estariam dormindo e as mães impedidas de saírem de seus quartos por estarem acompanhando suas crianças.

Esses são alguns exemplos da hostilidade contra as mulheres no espaço do 34º CONSINASEFE.

Acreditamos que muitos desses problemas poderiam não ter ocorrido ou serem minimizados, caso se tivesse considerado convidar as mães com crianças no evento para as discussões que se destinaram à reorganização do Congresso diante dos problemas estruturais.

O não acolhimento das mães e suas crianças neste Congresso é o exemplo da tentativa constante da sociedade em invisibilizar e silenciar as mulheres, confinando-as ao ambiente doméstico. E é um grito que diz “nós não queremos mães aqui”. É um reflexo da reprodução de uma sociedade hostil e excludente às mulheres. Trata-se da pura reprodução do machismo que está enraizado em nossa sociedade e contra o qual tanto afirmamos lutar!

Por isso perguntamos a todes: A minha avó não foi vista, a minha mãe também não foi vista e agora chegou a minha vez? Será que chegou a nossa vez de sermos invizibilizadas também? Será que nos resta a exclusão da luta sindical por sermos mães? A essa pergunta respondemos: NÃO!

Ressaltamos, mais uma vez, que compreendemos as dificuldades enfrentadas em função do ocorrido à organização do evento, no entanto exigimos que o sindicato acolha e garanta a dignidade das mães e de suas crianças em todos os eventos de forma efetiva, sem retrocessos.

Por mais respeito às mulheres mães militantes!

Assinam esta nota:
Ana Lady da Silva – sindicalizada da base do Sintietfal
Ana Paula Blengini – sindicalizada da base do Sinasefe IF Fluminense
Cristiane Santana Silva – sindicalizada da base do Sinasefe IFSP
Danielly Maidana de Menezes Vieira – sindicalizada da base do Sinasefe IFSP
Gisele Peres – funcionária do Sinasefe IFSP
Laura Rocha – sindicalizada da base do Sinasefe IFMG
Maíra Ferreira Martins – sindicalizada da base do Sinasefe IFSP
Samanta Lopes Maciel – sindicalizada da base do Sinasefe IFES

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O SINDICALISMO CLASSISTA E SOCIALISTA NÃO PODE SER MACHISTA!

O machismo estrutural que explora e oprime mulheres da classe trabalhadora assola também o ambiente sindical. Tem sido árdua a luta para que mulheres que atuam em sindicatos não sejam silenciadas, agredidas física e psicologicamente e assediadas. Assim como lutamos para que a participação feminina seja uma realidade cada vez maior nos sindicatos, pois, sem mulheres a luta classista jamais estará completa. São as mulheres que mais sofrem processos de exploração do trabalho, são para as mulheres, em especial as negras, as piores condições de vida.

Dessa forma cada vez mais os sindicatos se dão conta da importância da luta feminista no combate ao patriarcado, ao machismo e a misoginia se fazer presente também na convivência entre companheiros e companheiras de luta, pois, mudanças estruturais precisam começar entre os e as que lutam!

Por isso, nós mulheres da corrente sindical Resistência e Luta repudiamos a forma como a companheira Natália Cavalcanti foi tratada pelo diretor do SINASEFE Pará, Sr. Guaraci Cardoso Soares, na última reunião ampliada desse sindicato que objetivava a instalação do comando de greve. Ao questionar posições da diretoria, a companheira foi atacada pelo referido diretor com mecanismos de desqualificação, ataques pessoais, sexistas e machistas. Ressaltamos que divergências políticas, pluralidade de ideias são salutares à luta que estamos travando contra o Governo Bolsonaro e contra o Bolsonarismo e que nos espaços democráticos dos sindicatos todos, todas e todEs filiadEs têm direito a manifestação de suas ideias.

É inadmissível que um diretor se utilize de sua posição para atacar uma mulher, professora e filiada da base do sindicato, quando deveria defender seus próprios argumentos. Esse tipo de atitude não cabe mais nos nossos espaços de luta, nossos sindicatos precisam encampar as lutas antimachistas, antilgbtfóbicas, antirracistas como parte de nossa luta contra o capitalismo! Por isso, exigimos deste senhor uma imediata retratação pública à companheira Natália Cavalcanti .

Machistas não passarão!

Assinam:
Zaira Fonseca (Regional Norte II do ANDES-SN)
Campo de luta e juventude Pajeú
Movimento da Luta Antimanicomial Pará/ RENILA
Edivania Alves – diretora geral ADUFPA; coletivo Mulheres Resistência e Luta
Joselene Mota (ANDES Regional Norte II e Mulheres Resistência e Luta)
Mara Gouveia (Mulheres Resistência e Luta e Gabinete Vereador Fernando Carneiro) Conceição Holanda ( Coordenadora Geral do Sintepp e Executiva Nacional da Intersindical)
Assembleia dos Servidores do Colégio Pedro II (SINDSCOPE), de 14 de junho de 2022

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