Favela pede socorro e denuncia maior chacina da história do Rio em ação policial; ato é convocado para a Cidade da Polícia na manhã desta sexta (7)
IMPRENSA SINDSCOPE
Chacina. Massacre. Terror. Estes são alguns dos termos que estão sendo usados para definir o que ocorreu na favela do Jacarezinho na quinta-feira, dia 6 de maio de 2021. Organizações da sociedade civil estão pedindo à população para que denuncie o que já é considerada a maior chacina em operações policiais da história do Rio de Janeiro e se solidarize com a comunidade desta favela da Zona Norte da capital fluminense.
No Twitter, uma das iniciativas pedia que fosse postada a hashtag #ChacinaDoJacarezinho!. Um ato está sendo convocado para começar às 7 horas da manhã desta sexta-feira (7), na Cidade da Polícia, próximo ao Metrô de Maria das Graças.
Pelo menos 25 pessoas foram mortas nas três horas iniciais da operação da Polícia Civil, autorizada pelo governo do Estado, nesta quinta-feira, 6 de maio de 2021, cuja legalidade está sendo questionada. A corporação informou que um policial foi morto com um tiro na cabeça. Nas redes sociais, postagens atribuem a excessiva violência policial a uma operação de vingança da morte do agente. Há relatos de que pessoas já rendidas foram executadas.
Vídeos e fotos com denúncias de moradores da favela relatam cenas de execução à queima-roupa na comunidade, quase todos jovens. A maioria negros. A operação contraria uma decisão do Supremo Tribunal Federal que proíbe a realização de operações policiais nas favelas durante o período de pandemia, exceto em situações inevitáveis e sob acompanhamento das instituições judiciais.
De acordo com o governo do Estado, a ação, intitulada “Operação Exceptis”, foi comandada pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, com apoio de outras unidades, ‘contra a atuação de traficantes que estariam aliciando crianças e adolescentes para integrar o Comando Vermelho”, facção que explora o território.
O resultado contraria qualquer alusão à proteção a adolescentes. O governador do Estado, Cláudio Castro (PSC), não explicou as razões para que a decisão do STF fosse desrespeitada e a operação desencadeada, durante o mais grave momento da pandemia da covid-19. Ao contrário, a versão oficial é de que a determinação do STF foi respeitada.
Aliado do presidente Jair Bolsonaro, que defende as atuações ilegais de milícias, Castro tomou posse definitivamente apenas seis dias antes da operação policial que entrará para a história como a mais letal no estado do Rio. Menos de 12 horas antes da operação policial, se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio Laranjeiras.
Texto publicado no site do coletivo “Jornalistas Livres” levanta a possibilidade de que a violenta ação policial beneficie setores das milícias, que disputam áreas territoriais com outras facções do tráfico de drogas, especialmente o Comando Vermelho, que domina o Jacarezinho.
Em entrevista a jornalistas, o delegado Felipe Cury, diretor do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE), negou que tenha havido execuções por parte das forças policiais. “A única execução que houve na operação foi do policial, infelizmente. Ele foi executado friamente pelos traficantes. As outras mortes foram de traficantes que atentaram contra a vida dos policiais. Houve resposta e acabaram sendo neutralizados”, disse, aparentando considerar natural 25 mortes de jovens que teriam optado por morrer a se render.
‘Não existe democracia’
Mais cedo, o advogado Joel Luiz Costa publicou vídeo no Twitter afirmando, emocionado, que o que estava presenciando demonstrava que não há democracia na realidade vivida nas favelas. “Isso aqui não é democracia, não é nada do que a gente pensa que é viver em sociedade, é muito cruel você estar na rua, sentar com os amigos para tomar uma cerveja, fazer coisas triviais que todo ser humano faz, viver a vida e ver uma dezena de marcas de tiros na porta de um bar, de uma loja de cosméticos, cano estourado, balas e balas no chão, ninguém merece isso”, disse. Ele integra o Instituto de Defesa da População Negra, que atua no Jacarezinho.
O Sindscope lamenta as mortes de tantos jovens, repudia a política de extermínio contra vidas pobres e negras adotada em nome de um falso combate às drogas e defende a investigação rigorosa do caso com acompanhamento da sociedade civil – ressaltando que os governantes que não protegem a população contra o vírus e os impactos sociais da pandemia são os mesmos que entram nas favelas com as forças policiais distribuindo violência e horror.
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