Pandemia e o povo negro

Veja nota do GT de Negras e Negros do Colégio Pedro II

A pandemia no Brasil está ceifando mais de três mil vidas a cada 24 horas: uma triste marca que, segundo os especialistas, pode ainda aumentar. Desse total, a imensa maioria é de pessoas pobres. E essa pobreza tem cor: são as negras e negros, em sua esmagadora maioria habitantes de favelas e periferias, os que mais sofrem com a covid 19.

Segundo o Censo 2010, 22% dos habitantes do município do Rio de Janeiro moram em áreas de favelas. Lugares com condições precárias de vida, como saneamento básico ou água encanada.

De acordo com os dados do Boletim Socioepidemologico da Covid-19 na Favelas, a taxa de incidência e taxa de mortalidade por raça/cor foi cerca de duas vezes maior na população negra do que na população branca nos bairros sem favelas. Nesse sentido, mesmo em áreas onde há o predomínio da população branca, quem mais adoece e morre são os negros.

Porém, nos bairros Complexo do Alemão, Jacarezinho, Acari, Rocinha, Costa Barros, Vidigal e Barros Filho, considerados de “altíssima concentração de favelas”, a taxa de letalidade da doença é de 19,5%. Ou seja, o dobro da dos “bairros que não têm favelas” (9,2%) e muito acima da taxa do município (11,7%).

Não se pode esquecer que nesses bairros a testagem é capenga e há também a presença de doenças pré-existentes como hipertensão, fatores de riscos do tabagismo e a dificuldades de acesso aos serviços de saúde pública, conforme afirmou Bianca Leandro, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e uma das autoras do estudo.

Em São Paulo, no decorrer do ano 2020 a Covid-19 foi muito mais mortífera entre pessoas negras do que entre as brancas, quando 46,7 mil pessoas morreram em decorrência da doença no território paulista. É o que mostra um estudo inédito da Vital Strategies com apoio do Afro-Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).

Os dados mostram que, em São Paulo, a população negra (preta ou parda), que corresponde a 40% do total, está na liderança da desigualdade racial no país durante a pandemia de Covid-19. O excesso de mortes registrado no estado entre os negros (pretos e pardos) foi mais do que o dobro daquele registrado entre brancos.

Foi o que revelou estudo da equipe coordenada pela médica Fátima Marinho, pesquisadora sênior da Vital Strategies e coordenadora do estudo: para os brancos, esse excesso foi de 11,5%; para os negros, o salto chegou a 25,1%. Com a pandemia, a perda de saúde dos negros foi somada à dificuldade de se fazer isolamento social, afirma Fátima.

A dissonância é mais extrema quando se observa o excesso de mortes nas faixas mais jovens, de até 29 anos. Nesta situação, encontramos um número alarmante de mortes entre os negros, chegando ao quadruplo do dos brancos.

Vamos perceber que as grandes diferenças estão nos extremos etários, nos jovens e nos idosos. “Um porque sai de casa para trabalhar, pega transporte público lotado; e outro porque não consegue ter distanciamento dentro de casa, das comunidades, e porque já perdeu muita saúde”, diz a médica.

Esse estudo foi realizado a partir de dados do SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde) e do sistema de informação da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais.

Há também a percepção de que existe disparidade no aspecto racial na lenta vacinação em curso. Levantamento feito pela Agência Pública, a partir de dados de 8,5 milhões pessoas que receberam a primeira dose das vacinas contra covid-19 nos dois primeiros meses de imunização no país, chegou à conclusão de que a proporção é de duas pessoas brancas para cada pessoa negra vacinada. Como se observa, se por um lado é a menos vacinada, por outro a população negra é a que mais é acometida pela doença e a que mais morre.

Mediante esses dados alarmantes, que avaliamos que se reproduzem em todas as regiões do país, reafirmamos nosso empenho em, através do GT de Negras e Negros do Sindscope, apoiar e favorecer a ampliação de iniciativas pela reversão do caos social em que se encontra a população negra, especialmente nesse momento de pandemia.

Grupo de Trabalho de Negras e Negros do Sindscope
(Sindicato dos Servidores do Colégio Pedro II)

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